A Índia vem se firmando entre as maiores economias do planeta e aparece como a quinta colocada no ranking dos PIBs (Produto Interno Bruto) mundiais, com um crescimento estimado de 6,4% em 2024.
Contando com um robusto mercado interno, respaldado por uma população de mais de 1,4 bilhão de pessoas, um nicho de bens de consumo, em especial, vem crescendo no país: itens de maior valor agregado, o que inclui móveis e colchões.
Para o exportador brasileiro, entender esse contexto pode abrir portas relevantes em um mercado que ainda mantém baixa participação de produtos importados.
Tendo como um dos focos prioritários a Inteligência de Mercado para o fortalecimento da cadeia moveleira nacional, este panorama é demonstrado no “Estudo de Oportunidades – País-Alvo: Índia”.
O estudo é encomendado e publicado pela Abimóvel (Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário), em parceria com a ApexBrasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos), e desenvolvido pelo IEMI junto a fontes oficiais de pesquisa, com exclusividade para os associados do Projeto Setorial Brazilian Furniture.
A predominância de micro e pequenos produtores artesanais tem condicionado a competitividade na Índia. Embora esse cenário possa parecer desafiador, ele também sinaliza que há espaço para móveis diferenciados e com maior grau de inovação, segmentos em que o Brasil pode se destacar especialmente pela qualidade de design, matérias-primas e acabamentos.
Características tradicionalmente importantes no mercado local, sobretudo entre consumidores de classes mais altas.
Este mesmo panorama também se mostra relevante para a indústria de componentes e fornecedores brasileiros, que podem oferecer soluções e insumos de alta qualidade ao mercado indiano.
Ao tratarmos de móveis e colchões prontos, o consumo interno na Índia atingiu cerca de US$ 20,2 bilhões em 2023, registrando um crescimento de 9,1% em relação a 2019 (série histórica analisada pelo estudo).
Ainda assim, a participação das importações no mercado doméstico do setor permaneceu em apenas 2,6%.
Nesse contexto de baixa abertura às importações, o histórico das exportações brasileiras de móveis e colchões para a Índia revela oscilações ao longo dos anos.
Enquanto o período de 2017 a 2019 proporcionou um pico histórico ao setor, com um salto de 495% na agem de 2016 (US$ 205 mil) para 2017 (US$ 1,221 milhão), seguido por +58% em 2018 (US$ 1,933 milhão) e um acumulado de +17% até 2019 (US$ 1,426 milhão); esse ritmo não se manteve nos anos seguintes, registrando-se quedas significativas. Ainda assim, o volume negociado permaneceu acima da média dos períodos anteriores a 2015.
Entre 2019 e 2023, o acumulado das exportações brasileiras de móveis e colchões para a Índia totalizou cerca de US$ 3,27 milhões, evidenciando a existência de nichos que seguem demandando produtos com design e preços competitivos. Nesse sentido, alguns segmentos apresentaram resultados mais animadores, como o de assentos, cujo desempenho em receita avançou 223,5% em 2023 frente a 2019.
Dessa forma, entende-se que com ajustes na estratégia e no mix de produtos, o Brasil possa recuperar — e até mesmo superar — patamares anteriores.
Dados preliminares indicam que em 2024, contudo, as importações indianas de “Móveis e suas partes; colchões, es de colchão e outros itens para casa” brasileiros tenham ficado em US$ 254,9 mil (FOB).
Outro fator relevante é o preço médio dos produtos brasileiros, que em 2023 foi de US$ 2,33/kg (FOB), comparado a US$ 3,66/kg (CIF) na média das importações indianas em geral.
Mesmo se tratando de modalidades distintas de custo (de negociação de pagamento na origem versus no destino, respectivamente), essa diferença sugere competitividade para a indústria brasileira. Ao mesmo tempo, o desafio é mostrar valor agregado e atender às expectativas do público indiano, evitando competir apenas em faixa de preço.
Além dos custos de produção e de frete, bem como dos prazos de entrega, o exportador precisa compreender as especificidades do mercado local. Isso implica adequar modelos, bem como dimensões, designs e acabamentos. Iniciativas de promoção comercial, participação em eventos e a construção de parcerias estratégicas no varejo e na distribuição também são caminhos para consolidar a presença brasileira.
Nesse sentido, embora o produto brasileiro concorra diretamente no quesito preço com o da China (principal fornecedora de móveis para a Índia), há diferenciais competitivos importantes, como design, variedade de matérias-primas, certificações de sustentabilidade e atendimento personalizado, que podem valorizar as exportações do Brasil.
Nas negociações entre os dois países, aliás, as empresas brasileiras podem se beneficiar do Acordo de Preferências Comerciais Índia-Mercosul, em vigor desde 2009, que reduz a tarifa de nação mais favorecida de 25% para 20%, dependendo do produto.
Maximizar esse benefício exige atenção aos requisitos de origem e às normas documentais, mas pode representar uma vantagem relevante perante concorrentes de países que não desfrutam de acordos semelhantes.
A Índia se destaca, portanto, como uma economia em expansão, com demanda crescente por bens de consumo. Apesar de obstáculos como burocracia, produção local artesanal, concorrência chinesa e variações cambiais, o mercado indiano abre oportunidades para produtos brasileiros, desde que o exportador planeje de forma estruturada.
As projeções levantadas por meio do estudo apontam continuidade nas possibilidades de crescimento para o setor moveleiro brasileiro na região, em todos os produtos do segmento de móveis e colchões analisados.
Um exemplo apontado no relatório é a participação das exportações brasileiras de móveis de madeira, que ainda está concentrada em segmentos de menor valor agregado.
Tal categoria, no entanto, exerce forte peso na pauta exportadora para a Índia e integra algumas das principais linhas importadas pelo país. Assim, há espaço para diversificar produtos em faixas de maior preço, reforçando a competitividade brasileira e conquistando-se marketshare em um mercado que, apesar de exigente, cresce de forma consistente.